Morgues de Luanda, um espaço de horror e grave perigo a saúde pública
Morgues de Luanda, um espaço de horror e grave perigo a saúde pública
Morgues sem condições.
É um abrir e fechar de gavetas a todo o instante. O trabalho exige dos funcionários coragem e paciência e, depois da abertura das gavetas, o cheiro nauseabundo que paira desafia a coragem de qualquer pessoa que se desloca a uma morgue pública de Luanda. Seja à procura de um familiar dado como desaparecido, seja para depositar cadáver de um ente querido, quem se dirige à Morgue Central de Luanda ou à Camama «esbarra» em funcionários que executam os trabalhos sem respeito ao protocolo sanitário: alguns não usam luvas, nem máscaras, e esmagadora maioria não tem uma bota específica para as referidas funções, pelo que entram e saem das salas com os mesmos calçados com que vão para a casa, pondo em risco não apenas a sua saúde como a dos seus familiares.
Em Luanda, exceptuando as dos hospitais, o Governo Provincial gere três morgues, designadamente, a Central, a do Camama e a de Cacuaco. Estas três unidades apresentam praticamente as mesmas debilidades, mas é na Morgue Central onde funciona o mais temível espaço de armazenamento de cadáveres.
Trata-se da famosa Câmara 5, uma sala com cerca de cinco metros quadrados, onde são depositados os cadáveres retirados da via pública sem o conhecimento dos familiares.
Aqui, corpos e rostos completamente irreconhecíveis, sangue a escorrer e micróbios a andar pelo chão fazem a fotografia de um espaço que acolhe sobretudo vítimas de mortes violentas, de atropelamentos e afogamentos.
Por se tratar de uma câmara específica na conservação de cadáveres de pessoas que conheceram a morte fora do hospital, a Câmara 5 recebe regularmente familiares que procuram por seus entes queridos desaparecidos há já algum tempo.
No entanto, apesar do desejo de encontrar o familiar desaparecido, quando são convidadas a entrar para a câmara de má fama para fazerem o reconhecimento dos corpos, a maioria das pessoas desiste. Num grupo de três a quatro elementos, normalmente, apenas um tem a coragem de «abrir caminho» por entre os corpos apinhados no chão, levantando o braço deste, destapando o rosto e revirando a cabeça daqueloutro, até se certificar de que o corpo do familiar por que procuram está ou não está depositado aí.
Se a resposta for positiva, trata-se, então, a papelada necessária para a retirada do corpo da Câmara 5 para uma outra das restantes 17 câmaras.
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