Entre duas amigas da onça- Graça Campos

 

Em Angola, vão sendo cada vez mais raros os meses que terminam sem notícias de descarrilamento de comboios nos diferentes caminhos de ferro.

Os acidentes ferroviários entraram na rotina dos angolanos de tal modo que hoje já ninguém abre a boca de espanto quando confrontado com a notícia de mais um.

Os Caminhos de Ferro de Benguela, Luanda e Moçamedes, todos eles “reconstruídos” por chineses, tornaram-se verdadeiras armadilhas de comboios e vagões.

E de nada adianta culpar as chuvas pelos aluimentos de terra. 

Chuva, há em toda a parte. E há países em que mesmo recebendo, quase diariamente, cargas pluviométricas inclementes, aluimentos de terra ou descarrilamento de comboios ainda são notícia.

No nosso país, nem já a governamentalizada comunicação social pública se comove mais com os desastres ferroviários.

Hoje, está claro que grande parte dos 20 biliões que o Governo tomou de empréstimo à China para reabilitar as suas principais

infra-estruturas foi parar a bolsos particulares.

Com a cumplicidade de angolanos, os chineses enfiaram-nos os dedos. 

Em quase todos os casos, os acidente se devem à má qualidade dos carris montados pelos chineses. Como sustenta uma especialista, os “chinocas” levaram os carris em aço inglês do tempo colonial e trocaram-nos por uns de qualidade mais que duvidosa, perante o olhar cúmplice e silencioso do Gabinete de Reconstrução Nacional. 

Com as obras chinesas em total e irreversível esboroamento e com o satélite encomendado e pago à Rússia

desaparecido, é mesmo caso para dizer que Angola está (muito bem) entalada entre duas amigas da onça.

(E nessa altura do campeonato, em que a Rússia está “entretida” a matar os ucranianos, ninguém, da parte de Angola, ouse cobrar-lhe o satélite).

Agora que os testas de ferro dos verdadeiros larápios do país começam a sair das tocas, como se fossem ratos surpreendidos por enchentes de água, não seria altura de sentar no banco dos réus os responsáveis pelas obras de papelão que custaram biliões aos bolsos dos angolanos?

Toda a gente implicada “na brincadeira” chamada reconstrução nacional anda aí.

Os milhões que vão surgindo como que miraculosamente ora sob a forma de Lussatis ora germinando como cogumelos em terras improváveis – como as cinquenta milhas que, espantosamente, brotaram simultaneamente no Huambo e na fronteira do Kuando Kubango com o Cunene, fazem parte do pacote que deveria suportar uma verdadeira reconstrução do país.

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