Se eu fosse Presidente da República (I )- Lazarino Poulson

 

Se eu fosse Presidente da República (I )- Lazarino Poulson

Numa análise fria e racional, concluiremos que a morte acelerada ao José Eduardo Dos Santos, representa, por si só, o comportamento padrão do regime que numa situação de confronto com a verdade, toma sempre a primazia de livrar-se dos adversários, ou seja, queima os arquivos e/ou figuras-sombra para que a verdade não se apure. 

Foi-se José Eduardo Dos Santos. 

Lá se foi o Homem que dirigiu o país durante 38 anos sob grandes turbulências da guerra fria que ocasionou na altura a divisão do mundo em dois blocos, cujo impacto se refletiu fortemente em Angola. 

Foi-se o homem que, bem ou mal, soube cuidar e proteger os seus correligionários, proporcionando-lhes todos os benefícios possíveis, incluindo as promoções várias. 

Foi-se o Homem que, no auge da guerra fratricida e contra vontade do grupo sectário do seu partido, soube exteriorizar o sentido de Estado e a magnanimidade espiritual e humana. 

O grande legado que o Engenheiro José Eduardo Dos Santos deixa, tem a ver com a capacidade de estabelecer pontes para o diálogo, a reconciliação e a unidade dos angolanos que se traduziria na paz social. 

José Eduardo Dos Santos apesar do sistema vil e imprudente que o envolvia, nos momentos cruciais, soube manter a postura de um político fino e representava-se aos angolanos como Presidente de todos.

Entretanto, José Eduardo Dos Santos foi vítima do sistema que ele próprio ajudou a criar e a consolidar, tendo produzido lobos ferozes que, tão-logo os entregou o poder, começaram a picota-lo até o devorarem.

O sistema dirigido pelo MPLA é muito violento, intolerante, insensato, insensível e desumano que para defenestrar os adversários até ao leito da morte, basta soltar a língua de fogo ou a propaganda com o linguajar coordenado que dispensa o aperto do gatilho.

Foi evidente a forma como o regime conseguiu empurrar até a exaustão o Ex-Presidente da República e Presidente Emérito do próprio MPLA ao ponto de atingir uma depressão sem fim, porquanto, há muito se anunciara a morte do estimado Arquiteto da Paz com demonstrações de forças protagonizadas pelos herdeiros do trono que com acções de pura vingança, não se coibiram em ataca-lo até no exterior do país com discursos vermelhos como:

1. O MPLA deve assumir a dianteira do combate a corrupção, mesmo que os primeiros a tombarem sejam militantes ou altos dirigentes do Partido, que tenham cometido crimes, ou que pelo seu comportamento social estejam a sujar o bom nome do Partido; Luanda, Setembro de 2018.

2. É preciso destruir o Ninho dos Marimbondos; Lisboa 22 de Novembro de 2018.

3. Encontrei os cofres do Estado todos vazios; Luanda, Novembro de 2018.

4. Eu também tenho filhos e não vou entregar obras a nenhum dos meus filhos; Luanda, 09 de Junho de 2022.

Numa análise fria e racional, concluiremos que a morte acelerada ao José Eduardo Dos Santos, representa, por si só, o comportamento padrão do regime que numa situação de confronto com a verdade, toma sempre a primazia de livrar-se dos adversários, ou seja, queima os arquivos e/ou figuras-sombra para que a verdade não se apure. 

É assim que o regime procede com os seus adversários internos ou externos. 

Pelos vistos, é assim que o regime poderá proceder com todas as figuras internas que tenham manifestado simpatia e carrinho com o malogrado José Eduardo Dos Santos.

No mês de Setembro de 2018, em sede da Reunião do Comité Central do MPLA, o seu Presidente afirmou o seguinte: 

O MPLA deve assumir a dianteira do combate a corrupção, mesmo que os primeiros a tombarem sejam militantes ou altos dirigentes do Partido, que tenham cometido crimes, ou que pelo seu comportamento social estejam a sujar o bom nome do Partido. 

a) De concreto, a quem é que o discurso estava a se referir?

b) Os militantes do MPLA que cometeram ilicitudes no exercício de funções de Estado devem ser julgados em sede do Partido ou nos Tribunais do País?

c) Os crimes de corrupção que foram cometidos lesaram a honra do Estado ou do Partido MPLA?

d) O ponto 2 do artigo 67º da Constituição de Angola consagra o princípio da presunção de inocência até o trânsito em julgado.  

e) O uso da expressão tombar num discurso significa o que?

f) Qual é na verdade o sentido, o alcance e o fim último da palavra tombar?

g) O que significa a frase segundo a qual: O MPLA deve assumir a dianteira do combate a corrupção?

h) Dar ordens ao poder judicial?

i) Comandar a justiça?

j) Num país Democrático e de Direito com separação de poderes, como é que um partido se arroga a substituir o poder judicial em pleno funcionamento?

k) Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra tombar significa derrubar, matar; no entanto, o artigo 59º da Constituição da República de Angola consagra o princípio da proibição da pena de morte. Com que intenção, se introduziu no discurso, a expressão tombar?   

l) Afinal o MPLA já dita sentenças para os cidadãos?

m) Assim a Constituição da República de Angola fica aonde?

n) Esse tipo de actos vis, configuram apenas violação da Constituição e a lei, ou é uma golpada do Estado?

o) Destruir o Ninho dos Marimbondos significa o que? 

p) E quem é o Ninho ou o pai dos Marimbondos?

Ora bem, o artigo 2º da Constituição da República de Angola consagra que,- a República de Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania popular, o primado da Constituição e da lei, a separação de poderes e interdependência de funções, a unidade nacional, o pluralismo de expressão e de organização política e a democracia representativa e participativa.

Um pai de família ou chefe de uma comunidade deve possuir alguma sabedoria e inteligência, para que, na abordagem e tratamento de assuntos sensíveis do país, tenha essencialmente a cautela e o pudor de filtrar e dobrar a sua língua, porquanto, há expressões que não devem ser ditas por um dirigente com responsabilidades.

Na sequência, o mundo vai testemunhado que a pseudo homenagem ao Ex-Presidente da República, o malogrado José Eduardo Dos Santos, está sendo realizada numa perspectiva bicéfala em que por um lado faz-se o aproveitamento político, e por outro, desenvolve-se a profanação impiedosa do seu cadáver, pelas seguintes razões:

1. Qual é a razão de se dividir a família de José Eduardo Dos Santos em grupos de família boa e família má?

2. Qual é a razão e o objecto da negociação do corpo de José Eduardo Dos Santos?

3. Qual é a necessidade de se injuriar, difamar e humilhar as filhas que nessa hora de dor e luto, deviam merecer de todos, solidariedade e uma palavra de conforto, independentemente das nossas diferenças subjectivas?

4. Qual é a razão e a necessidade de se ir buscar fantasmas do passado sobre a fuga à paternidade de uma suposta filha que o próprio malogrado enquanto em vida, teve a oportunidade de se pronunciar contra, ou seja, nunca reconheceu a sujeita?

O país é todos nós; e todos devemos estar irmanados, independentemente das nossas crenças, opções ideológicas e ocupações. 

A morte representa sempre a dor e o luto, de maneiras que devemos respeitar sempre as famílias que passam por momentos similares.

Respeitemos a honra e a memória do Engenheiro José Eduardo Dos Santos e que a sua alma descanse em paz.

Cônscios de que os aráutos do grupo sectário não contentes com os avisos e apelos para o bom senso das nossas instituições, virão para nos atacar, por conseguinte, serenamente, cá estaremos para tudo o que vier.

Bem haja.

Joaquim Nafoia- deputado 


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