José Luís Mendonça
A solução do problema de Angola não passa, é óbvio, pela geringonça. A geringonça (carripana de remendos) é uma criação portuguesa, do Primeiro-Ministro António Costa. Nós, angolanos, temos capacidade e dever de parar de copiar o Ocidente e o Oriente. Durante cinco séculos, vivemos sob o jugo colonial. Durante meio século, estamos a viver sob o jugo do comunismo, agora nas vestes neo-liberais (oligarcas riquíssimos e ditadura opressiva contra o povo). Quem é que se sente bem, numa cidade capital cheia de homens armados e slogans de guerra nos quartéis, 20 anos depois da Paz do Lwena?
O grande problema de Angola é que este país começou mal, com uma profunda divisão etno-cultural do projecto lusófono colonial chamado Angola. Angola, – e o camarada Presidente sabe muito bem, porque estudou História – é o resultado da língua portuguesa e da vontade colonial portuguesa. Por isso é que até hoje, o português é a única língua oficial do nosso país. Tire-se a língua oficial e o país não tem sustentabilidade.
Ora, nós somos mais que a língua portuguesa. Nós somos oito grandes grupos etno-culturais. Merecemos outra abordagem da Unidade Nacional e da Estabilidade que se afaste radicalmente do Etno-colonialismo necrófago.
Claro que geringonça não é a solução. Isso seria outra subserviência aos portugueses. Nós temos de ser originais. E ser original, camarada Presidente, é tirar ilações do passado, é resolver a grande contradição que nos levou à guerra civil, é acabar com a exclusão cultural, política e económica dos outros povos, dois deles representados, por via da luta de libertação, por dois outros partidos. Nós somos mais do que os três partidos da luta. Isso quer dizer que não se trata de uma solução à portuguesa, multipartidária. Trata-se simplesmente da inclusão económica, política e cultural de TODOS OS ANGOLANOS na construção do país. Por que é que as efemérides e topónimos são todas atribuídas aos heróis do MPLA e os paladinos do comunismo? A Via Expressa não podia chamar-se Wangari Mathay a primeira mulher africana a obter o Prémio Nobel da Paz?
Os órgãos e empresas do Estado devem deixar de excluir o contributo laboral e intelectual ou meramente opinativo de quem não é do MPLA. O MPLA tem de deixar de colonizer a Comunicação Social pública. As instituições de Ensino Superior devem acabar com as chefias partidarizadas. Deve-se deixar fluir o pensamento científico na sua essência criadora.
O camarada Presidente sabe por que é que um Decreto promulgado em 2011 sobra a Política Nacional do Livro e da Leitura e despachado por Vossa Excelência em 2018 é simplesmente ignorado? Se não sabe, pergunte ao seu Ministro da Cultura, que eu também não lhe sei responder.
O Povo quer outra cultura de Unidade Nacional que extrapole o núcleo partidário. Antes de ser do MPLA, da UNITA ou da FNLA, somos seres humanos dotados por Lei de dignidade humana. Só depois é que somos Angolanos. E os partidos vêm muito depois. Esqueça um pouco o seu partido, camarada Presidente. Aja como Presidente da República de Angola. Pense nas crianças, nas mulheres e nos homens que o Sr. governa. Estes não cabem numa geringonça remendada. Nós queremos todos é ter mobilidade e capacidade humana para resolver os nossos problemas. Quermos andar de METRO, camarada Presidente.