
HUAMBO:Militares e polícias envolvidosno negócio ilegal de ouro
Militares e polícias envolvidos no negócio ilegal de ouro
A denúncia foi feita pelo secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, Solya Selende, em entrevista exclusiva ao Pungo a Ndongo, durante a qual abordou, entre outros assuntos, o combate à corrupção na província e a vida interna do seu partido, um ano depois das eleições gerais de 24 de Agosto de 2023 Trata-se de altas patentes das Forças Armadas Angolanas ( FAA) e da Polícia Nacional (PN), que estão a exercer alegadamente exploração ilegal de ouro nas localidades de Catabola e Chilata, no município do Longonjo.

Além do Longonjo, as supostas altas patentes, cujos nomes não foram revelados, são acusadas também de ‘garimpar’ nas comunas de Samboto e Cambuengo, nos municípios de Chicala Cholohanga e do Mungo, respectivamente.“Mas é na Catabola onde nos últimos dias se desenvolve mais a extração mineira de ouro”, acrescenta Solya Selende, revelando que a situação já foi reportada às autoridades
competentes da província, particularmente, à Polícia Nacional, para se pôr cobro a esta prática, mas sem sucesso, e o garimpo continua a ser feito sem quaisquer sobressaltos. Uma prática que está a ser seguida pelas comunidades, que aos poucos vão também explorando com meios artesanais ao seu alcance.
Este exercício ilegal tem estado a levantar muitas interrogações no seio da sociedade

huambuense, numa altura em que o negócio está a propiciar muita gente, incluindo crianças, entre os 13 e os 15 anos, a ir para as zonas de garimpo a procura de ouro, apesar dos riscos por que passam para obter o precioso metal brilhante.Os locais são protegidos por efectivos das FAA e da PN, alegadamente a mando dos proprietários das minas, para impedir a invasão da população, que acredita ser o negócio mais rentável, já que os compradores residem também nas áreas de exploração, maioritariamente estrangeiros idos de países africanos, europeus e asiáticos. Já para se ter acesso às zonas, os militares e
os efectivos da polícia cobram 3 mil kwanzas aos garimpeiros, e o negócio das cobranças parece estar render, como admite o entrevistado, a julgar pelo número de pessoas que acorrem àquelas zonas em busca do metal para a sobrevivência.
Solya Selende diz que apesar de ser um ne-gócio de muito risco, crianças, jovens e idosos arriscam-se todos os dias a procura do ouro para vender, sendo que muitos deles não têm outra alternativa senão vender o metal que muitas vezes depois de muito esforço não encontram.
Catabola Nas minas desta comuna do Longonjo, além de ouro, os militares e polícias são também
acusados de explorar ilegalmente mármore, numa empreitada assegurada por cidadãos
nacionais e estrangeiros (chineses, congoleses, mauritanianos, gambianos), como o
entrevistado deste jornal.
O político e representante do Partido de Renovação Social, no Huambo, que esteve no pretérito domingo, 26 de Agosto, na Catabola, como ilustram as imagens, é contra a forma como está a ser feito o negócio, embora diga não ser “contra a exploração das riquezas angolanas, pelos próprios angolanos ou por outras pessoas, com base em parceirias”, mas defende que sejam feitas nos
marcos da lei.
“Não é isto que está a acontecer aqui em Angola, particularmente, aqui no Huambo”,sublinha, emocionado o político, para quem a Inspecção Geral da Administração do Estado
(IGAE), o Serviço de Investigação Criminal (SIC) e a Procuradoria Geral da República (PGR) deviam entrar já em campo para investigar o que considera supostos crimes económicos.Solya Selende denuncia que o que está a ocorrer nas zonas de garimpo representa uma violação dos direitos humanos, argumentando que os ocupantes das áreas de exploração de ouro instruíram os seus efectivos para não deixarem as comunidades explorar também o ouro, apesar de forma artesanal.
“Mas por que as populações que vivem nestas comunas, nestes municípios ou nas aldeias onde tem o ouro estão proibidos de explorar esta riqueza pelos senhores que dizem ser donos de tudo isto?”, questiona, desabafando que o que está a ocorrer nestas zonas “é exploração do homem pelo homem,
porque os poucos que escolheram a dedo para garimpar são mal pagos e muitos nem são recompensados”.
Reportando informações colhidas por si aos garimpeiros na Catabola, maioritariamente jovens, estes denunciaram que muitas vezes quando são surpreendidos pela polícia, são expulsos do local e lhes recebem o que conseguem durante a jornada de trabalho.Estes casos ocorrem mais nos rios Mbunji e
Salundo, nas localidades de Chilata e Catabola, os únicos cujo subsolo é rico em minerais
raros. Solya Selende diz que, por ter denunciado publicamente estes casos, já sofreu vários
atentados contra a sua integridade física e da sua família, mas promete continuar a baterse por esta causa que considera “justa para defender os injustiçados”.

Revela que não apresentou nenhuma queixa às autoridades por recear que a mesma não teria avançado, tendo em conta o envolvimento de algumas pessoas que o ameaçaram estarem ligadas supostamente a órgãos castrenses e a alguns órgãos de justiça na província.
Mina de Cambuengo Sobre esta mina, Solya Selende diz ter informações oficiais do Governo da Província do Huambo que a mesma será explorada por uma empresa estrangeira, que foi apresentada num acto solene, nesta cidade, em que estiveram todos os membros do executivo liderado pela governadora Lotti Nolika. Combate à corrupção
O dirigente do PRS defende que esta cruzada devia continuar e os tribunais deviam ser mais acutilantes na aplicação de penas condenatórias para desencorajar que outros cidadãos enveredem por práticas de crimes de ‘colarinho branco’.
Considera a impunidade como um impulso para os que seguem a teia da corrupção, em qualquer parte do mundo, pelo que, além dos tribunais, outros órgãos de justiça devem redobrar as suas acções para prevenir males maiores na sociedade angolana, em particular no Huambo.
Deplora o facto de o conhecido processo 50+1, em que foram arrolados vários responsáveis e gestores públicos do Governo da Província do Huambo, acusados de crimes de peculato, tenha ‘encalhado’ no tribunal, e todos postos em liberdade sem o cumprimento total da pena. Com este gesto, avança a fonte, “o combate à corrupção poderá não atingir a meta que se quer”, apesar de que desde a sua implementação tem dado passos tímidos, mas seguros devido à complexidade que encerra um trabalho desta natureza.
Sustenta que não conhece nenhuma sociedade que se tenha desenvolvido no meio da corrupção e da impunidade, pelo que pede a aplicação de penas pesadas e exemplares a quem prevaricar, ao invés das medidas punitivas actuais, que, na sua óptica, muitas já estão amnistiadas, favorecendo o infractor em liberdade. Sobre a exploração ilegal de ouro na província do Huambo, o Pungo a Ndongo contactou o porta-voz da Polícia Nacional, superintendente chefe Martinho Cavita, mas sem sucesso, porque não respondeu as chamadas e as mensagens que lhe foram enviadas via
watsap e sms, depois de as ter visualizado.
Por:Ireneu Mujoco