TITO E WILSON MANUVAKOLA ‘CULPA’ CHIVUKUVUKU PELO DESAPARECIMENTO DAS OSSADAS
Por altura dos acontecimentos Abel Chivukuvuku era o homem forte da BRINDE e
nesta condição nada devia passar sem as suas ‘impressões digitais’. Aliás, podia dar
ordens a partir de Luanda, onde na altura se encontrava a mando de Savimbi.
Orepresentante da UNITA na Comissão para a implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), Eugénio Antonino Ngolo (Manuvakola), em declarações à Rádio Correio da Kianda, esta semana, disse que o paradeiro das ossadas dos dois dirigentes da
UNITA é da inteira responsabilidade dos ex–membros da Brigada Internacional de Defesa Estado (BRINDE), serviços secretos da UNITA, e recusou-se a avançar mais detalhes sobre o assunto, justificando com o facto de não ter pertencido este sector castrense.
Apesar destas revelações, Manuvakola, que já foi a terceira figura na hierarquia da UNITA, até à assinatura do Protocolo de Lusaka,
no dia 20 de Novembro de 1994, altura em que foi afastado por Savimbi, por divergências pessoais, não disse se os antigos operativos da BRINDE foram ouvidos pela Comissão para explicarem sobre o paradeiro das ossadas, mas falou apenas em pessoas que quer
em desvirtuar as informações destas antigas figuras do ‘Galo Negro’.
A TPA, que se deslocou à Jamba com uma equipa da CIVICOP, fez um relato sobre o paradeiro desconhecido das ossadas de Tito Chingunji e Wilson dos Santos suas respectivas esposas e filhos, alegando que, depois de serem mortos, os seus corpos foram triturados e carbonizados.
Criada em Abril de 2019, cuja função é localizar as ossadas dos que morreram nos conflitos de 1975 a 2002, para serem entregues aos
familiares e conceder-lhes um enterro condigno à moda angolana e de cada família, esta é a segunda vez que a CIVICOP foi ao antigo santuário da UNITA, para desenterrar as ossadas não só de dirigentes da UNITA, mas de outros que morreram em circunstâncias ainda por esclarecer, como os que foram queimados na fogueira, em Setembro de 1983, acusados de feiticeiros.
Entretanto, as ossadas de Tito Chingunji, Wilson dos Santos, as mulheres e os filhos
menores não foram encontrados, porque,
segundo a TPA, depois de mortos foram triturados e os seus corpos carbonizados para
não deixar pistas, impossibilitando os médicos forenses localizarem as ossadas, colherem amostras de DNA e darem os passos subsequentes que culminariam com a inumação.
Aproveitamento político?
A presença da CIVICOP na Jamba, tal como na primeira digressão feita por esta comissão àquela localidade da província meridional do Cuando Cubango, está a ser contestada por alguns círculos da UNITA, nas plataformas digitais, e acusam o Governo de aproveitamento político por a TPA, tutelada por si, revelar o
paradeiro incerto das ossadas destes dois dirigentes e diplomatas da UNITA, tendo o primeiro representado este partido nos Estados Unidos da América, e o segundo em Portugal.
Vários cidadãos que se assumem como militantes e simpatizantes em várias plataformas digitais, estão a insurgir-se, além do Executivo,
também contra a TPA e o jornalista Cabingano Manuel, chegando a ponto de ser apupado com epítetos insultuosos, colocando em causa o seu profissionalismo.
Mas esqueceram-se que depois da criação da CIVICOP, a direcção da UNITA foi a primeira a exigir que o Governo apresentasse os corpos ou as ossadas dos seus dirigentes mortos em Luanda no conflito pós-eleitoral, em 1992,
Jeremias Kalandula Chitunda, vice-presidente, Adolosi Mango Alicerce, secretário-geral,
Elias Salupeto Pena, representante na Comissão Conjunta Político- Militar (CCPM) e Eliseu Chimbili, coordenador geral, e as autoridades governamentais responderam ao apelo, apesar de que faltam outros por se identificar. Mas a Comissão continua a trabalhar.
O mesmo não está a acontecer nas áreas antes controladas pela UNITA, por razões evocadas por Manuvakola, o que poderá dificultar o trabalho que a CIVICOP vem desenvolvendo se não houver a colaboração da outra parte,para que o processo tenha um desfecho positivo durante a sua vigência.
Falta colaboração Depois de ter deplorado as mortes dos seus familiares, o político Eduardo (Dinho) Chingunji, um dos pouquíssimos sobreviventes
do clã Chingunji, e sobrinho de Tito Chingunji, disse que a UNITA não está a colaborar para localizar as ossadas dos seus familiares, por má-fé, e mostra-se indignado com a atitude de Jonas Savimbi ter supostamente mandado matar os seus familiares, numa altura em que já tinham sido assinados os Acordos de Bicesse, entre o Governo e a UNITA, em Portugal.
O político tem-se batido para que a justiça seja feita contra os que executaram a família Chingunji, à dimensão do crime.
Segundo a fonte, a perseguição contra a sua família começou ainda na década de 80, acusada de prática de bruxaria e desterrada para o cativeiro fora da Jamba.
Sacerdote enaltece gesto O Cónego Apolónio Graciano em declarações à TPA enalteceu o gesto do Presidente da República, João Lourenço, pela criação da CIVICOP, que, na sua opinião, tem estado a fazer um exercício de reconciliação nacional e sarar
as feridas abertas pela guerra.
Para o sacerdote católico, o processo deve continuar tendo em conta a sua importância
para o consolo e a reunificação das famílias, apesar de que muito ainda deve ser feito para o desfecho deste caso, cujos primeiros resultados estão à vista de todos.
Savimbi e Ben Ben Antes mesmo da criação da CIVICOP, no quadro do processo de Reconciliação Nacional, o Governo já tinha entregue à família os corpos de altos dirigentes da UNITA,
falecidos em circunstâncias diferentes, nomeadamente, o presidente do partido, Jonas Savimbi, em combate a 22 de Fevereiro de 2002, no Lucusse, Moxico, e o seu sobrinho Arlindo Chenda Pena (Ben Ben), ex-vice Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), por doença na África do Sul. O corpo de Ben Ben permaneceu cerca de 19 anos, por divergências políticas entre a antiga direcção da UNITA, na altura liderada pelo presidente fundador e o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos, mas que viria ser sanado pelo actual Presidente da República, João Lourenço, quando entrou em funções, tendo autorizado a trasladação dos seus restos para Angola.
Ambos (tio e sobrinho) foram enterrados na aldeia de Lopitanga, município de Andulo, província do Bié.
Vice-Dembo Quanto ao antigo vice-presidente António Dembo, falecido por doença, nas matas do Leste, três dias depois de Savimbi, segundo uma entrevista que um dos seus filhos, Isaías Dembo (Jeff) concedeu ao jornal O PAÍS e conduzida pelo jornalista Ireneu Mujoco, tinha informado que diligências estavam a ser feitas desde 2008, com 11 pessoas com as quais conviveu antes de dar o último suspiro, mas condições financeiras dificultaram o prosseguimento, associando-se a chuva que se abatia sobre o Leste do país. Citando testemunhas, Jeff diz que o seu progenitor estará enterrado entre os rios Lule e Lumai, no município dos Bundas (Moxico) e que as próximas diligências seriam já feitas com o apoio do Governo. Aliás, o desejo da família é dar um enterro condigno a Dembo em Nambuangongo, província do Bengo, sua terra natal.
Fonte: Pungo a Ndongo
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