
Perdido no espaço e no tempo ACJ e seu discurso habitual
Na conferência de imprensa desta quarta-feira, 22, a expectativa era de que o líder da UNITA trouxesse alguma novidade no seu discurso, mas não passou de um simples exercício de incontinência verbal, que lhe é característico.
P ara os que acompanham atentamente o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, tinham a mínima noção de que o seu discurso não passaria de atirar farpas contra a governação, como tem sido norma, ao invés de reconhecer ou enaltecer os esforços de que algo está a ser feito para melhorar alguns aspectos apontados por si. Com a excepção da criminalidade, cujos números são assustadores nos últimos tempos, e não é segredo para ninguém que a situação preocupa não só os cidadãos, mas também as próprias autoridades, que garantem redobrar esforços para colocar ordem no circo, o resto não passou de mais uma operação de charme para ‘inglês ver’, só assim se compreende ACJ falar de intolerância política, com realce para aquilo que chamou de “ existência de um programa de eliminação de vozes contrárias ao regime e um claro programa do partido no poder de assumir ilhas partidárias”.
Como era expectável, o discurso de Adalberto Costa Júnior cingiu-se em acusações, mas sem trazer provas convincentes, por exemplo, sobre a denúncia da existência do tal programa de eliminação de vozes contrárias ao poder político. Tudo quanto se sabe em Angola não há presos políticos ou outros encarcerados pelas autoridades por delito de opinião, mas estão vários cidadãos em calabouços por terem praticado supostamente outros crimes, alguns dos quais aguardam julgamento, sendo que outros já foram julgados e condenados, cumprindo as suas penas em vários estabelecimentos prisionais.
A denúncia do líder da UNITA peca por não revelar os nomes dos ditos presos políticos.
Os nomes mencionados por Adalberto Costa Júnior entre os quais alguns conhecidos activistas cívicos, não foram condenados por delito de opinião, mas por terem cometido os crimes de “ ultraje e calúnia contra o Presidente da República”, segundo a sentença do Tribunal Provincial de Luanda( TPL), que os condenou no dia 20 de Setembro de 2023.
Em 2022, também, foi condenado nas mesmas circunstâncias um cidadão que dizia ser activista e militante da UNITA, Luther King, mas esta força política fez um aproveitamento político, durante a campanha eleitoral das eleições gerais de 2022, dizen ramente de justiça, para criarem um protagonismo ou aproveitamento político, em relação ao seu principal adversário político, o MPLA. Intolerância política No encontro com os jornalistas, Adalberto Costa Júnior denunciou também existir ataques contra líderes de partidos políticos na oposição que alega serem excluídos, sem especificar exactamente a quem se referia e em que circunstâncias, e também não poupou críticas à Comunicação Social, sobretudo a tutelada pelo Estado.
Sem colocar a nossa foice em seara alheia, mas analisando bem os factos da nossa política doméstica, o partido de ACJ, como é tratado no seio dos seus correligionários, não tem moral para criticar quem quer que seja ou quem eventualmente o ‘ataca’, porque ele não tem sido exemplo de que a política subordina-se à ética.
A UNITA devia perceber que “ a política é um jogo de paciência, ouvindo uns aos outros”, como fez lembrar o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, na Assembleia Nacional, quando respondia a deputada Navita Ngolo Felisberto por ter reagido mal a uma passagem deste, em representação do Executivo sobre a implementação das autarquias. Desde o fim da guerra em Abril de 2002, após a assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, adjacente ao Protocolo de Lusaka, que permitiu transformar a UNITA de um partido militarizado para um partido político, pouco ou nada faz o seu verdadeiro papel de um partido na oposição que luta para governar Angola, mas as suas acções resumem-se em trivialidades. No caso concreto de intolerância política, apesar do registo de alguns incidentes de percurso, ao longo destes 22 anos, o partido governante tem sido mais tolerante que a própria UNITA que se queixa desta situação. Dos muitos exemplos, que o diga o político Isaías Samakuva, presidente cessante deste partido, as ameaças que sofreu noSovsmo, em Viana, quando foi forçado a presidir a uma reunião para convocar o XIII congresso que elegeu o seu sucessor, após o primeiro ter sido chumbado pelo Tribunal Constitucional, no dia 7 de Outubro de 2021, por irregularidades. Esse acto de intolerância política foi protagonizado por militantes fiéis a Adalberto Costa Júnior, alguns idos do Huambo, terra natal de Adalberto Costa Júnior, que chegaram ao ponto de pisotear um quadro com fotografia de Isaías Samakuva, que liderou o partido durante 16 ininterruptos anos, ante o olhar sereno e impávido do actual líder, e a situação só não teve contornos imprevisíveis, devido à pronta intervenção da Polícia Nacional que se encontrava no local.
Exclusão Quanto à questão da exclusão, a UNITA é que tem sido protagonista, ou seja, ela própria é quem se auto-exclui. O exemplo mais recente é a sua saída da CIVICOP, cujas razões são pouco convincentes, se se comparar com aquilo que exigiu ao Governo, o enterro condigno dos seus dirigentes mortos em Luanda durante o conflito pós-eleitoral de 1992. Entretanto, por sua vez, recusou mostrar as campas de pessoas assassinadas nas áreas antes controladas por ela, algumas em circunstâncias ainda por se esclarecer, e como escapatória transformou o assunto como sendo um acto de intolerância política.
Ainda sobre exclusão, a Juventude Unida Revolucionária de Angola ( JURA), braço juvenil da UNITA, abandonou o seu lugar no Conselho Nacional da Juventude( CNJ), sob pretexto de argumentando descabidos, mas informações que vieram a público, de fontes internas do partido do ‘ galo negro, sustentam que os seus representantes permanecem em instituições em que consigam amealhar algum dinheiro, daí a justificação de abandonarem a CIVICOP e o CNJ.
Quanto a isso, está mais do que evidente que não são os casos levantados publicamente que fizeram com que abandonassem estes dois órgãos, mas por serem instituições que não lucram, onde os seus integrantes pudessem fazer o seu pé de meia, como acontece no Parlamento e na Comissão Nacional Eleitoral( CNE) onde os seus deputados e comissários, respectivamente, mantém-se de ‘pedra e cal Manutenção do poder No seu longo discurso, o presidente da UNITA acusou o Governo ( MPLA) de reavivar o espírito do partido único para manter o poder a “ todo o custo no Estado de direito de fachada”. Sobre esta matéria, a UNITA não tem razões de queixa, porque a alternância do poder passa por um exercício democrático, que são as eleições.
Em cinco processos realizados em Angola, esta força política sempre perdeu para o seu principal concorrente, pelo que caso queira alternância, deverá trabalhar mais para merecer a confiança do povo, ao invés de ‘chorar pelo leite derramado’ depois de um ciclo eleitoral, com acusação gratuitas da fantasia da fraude, mas que nunca provou. Adalberto Costa Júnior disse e bem que para desalojar o MPLA tem que ser por via da alternância democrática, mas para isso, tem que redobrar o trabalho, sob pena de nunca concretizar o propósito de governador Angola e os angolanos, e continuar com acusação de que o seu ‘ inimigo’ de estimação continua a perpetuar o poder
Fonte:Jornal Pungo a Ndongo