
Por que a decisão da China de receber investidores estrangeiros em saúde é importante
Nota do editor: Matteo Giovannini, comentarista especial sobre assuntos atuais da CGTN, é um profissional financeiro do Industrial and Commercial Bank of China e um membro associado não residente do Center for China and Globalization. O artigo reflete as opiniões do autor e não necessariamente as da CGTN.
A modernização chinesa no setor de saúde foi marcada por progresso substancial, impulsionado por reformas governamentais, inovação tecnológica e uma infraestrutura de saúde em expansão. A transição de um modelo de saúde básico e coletivizado para um sistema mais avançado e equitativo reflete a transformação econômica e social mais ampla que o país experimentou ao longo de várias décadas.
Em 8 de setembro, uma circular conjunta do Ministério do Comércio, da Comissão Nacional de Saúde e da Administração Nacional de Produtos Médicos anunciou planos para permitir que investidores estrangeiros administrem hospitais em Pequim, Tianjin, Xangai, Nanquim, Suzhou, Fuzhou, Guangzhou e Shenzhen, bem como em toda a ilha de Hainan. A circular, no entanto, enfatiza que investidores estrangeiros não terão permissão para adquirir hospitais públicos ou operar negócios associados à medicina tradicional chinesa.
A decisão de permitir hospitais totalmente de propriedade estrangeira em cidades e regiões importantes se encaixa bem com as metas da China Saudável 2030, um plano estratégico que visa expandir o espectro de serviços de saúde, promover estilos de vida mais saudáveis e criar um sistema de saúde robusto até 2030.
A mudança marca uma mudança significativa no cenário de saúde do país. Como a segunda maior economia do mundo e lar de uma população que envelhece rapidamente, o sistema de saúde da China tem enfrentado imensa pressão nos últimos anos. Ao abrir as portas para provedores de saúde estrangeiros, o governo está fazendo uma mudança ousada e estratégica que pode potencialmente remodelar não apenas o setor de saúde, mas todo o clima de investimento.
Os benefícios dessa política são claros. Durante anos, cidadãos chineses com meios para isso têm viajado para o exterior em busca de tratamento médico. Países como os EUA, Japão e Alemanha têm sido destinos principais para aqueles que buscam cuidados especializados, tecnologias médicas de ponta ou serviços que podem ainda não estar amplamente disponíveis em casa. Permitir que hospitais estrangeiros estabeleçam instalações totalmente próprias localmente aborda essa questão de frente, oferecendo acesso a cuidados de saúde de classe mundial sem a necessidade de viagens internacionais dispendiosas. Também incentiva instituições médicas estrangeiras a trazer opções de tratamento de ponta diretamente para o povo chinês.
Além disso, a mudança reflete os esforços mais amplos da China para modernizar e reformar seu sistema de saúde, que tem sido sobrecarregado por ineficiências, excesso de capacidade em hospitais públicos e disparidades regionais na qualidade do atendimento. Permitir hospitais estrangeiros em grandes centros urbanos como Pequim, Xangai, Guangzhou e Shenzhen é um reconhecimento de que a expertise global pode desempenhar um papel crítico no preenchimento de lacunas na infraestrutura de saúde da China. Ela abre caminho para uma competição saudável entre provedores nacionais e internacionais, o que pode levar os hospitais locais a melhorar seus padrões.
Hospitais estrangeiros também trarão modelos avançados de gestão de saúde, sistemas operacionais modernos e novos métodos de atendimento ao paciente que podem beneficiar profissionais e instituições médicas chinesas. Essa polinização cruzada de ideias provavelmente elevará o padrão geral de saúde na China, tornando-a mais competitiva em escala global.
Uma enfermeira trabalha na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) de um hospital na cidade de Suqian, província de Jiangsu, leste da China, em 12 de maio de 2024. /Xinhua
No entanto, essa mudança de política não é isenta de desafios. A introdução de hospitais de propriedade estrangeira pode intensificar a competição, especialmente para hospitais de primeira linha nas maiores cidades da China, que já atraem a maior parte dos talentos médicos de elite.
Há também a questão da acessibilidade. Esses hospitais estrangeiros atenderão principalmente a chineses ricos ou expatriados, deixando o cidadão médio com acesso limitado a cuidados de saúde de alto nível? Se os hospitais estrangeiros forem posicionados como provedores de luxo, eles podem aprofundar a desigualdade existente no acesso aos cuidados de saúde, deixando os hospitais públicos ainda mais pressionados, pois continuam a atender a maioria da população.
Além disso, as autoridades chinesas precisarão navegar cuidadosamente pelos aspectos regulatórios. Garantir que os hospitais estrangeiros cumpram as leis locais, os padrões de saúde e as considerações éticas é vital para manter a confiança e a segurança do público. Encontrar o equilíbrio certo entre a supervisão regulatória e fornecer flexibilidade suficiente para que esses hospitais inovem será a chave para o sucesso da política.
No contexto de uma política econômica mais ampla, permitir hospitais totalmente de propriedade estrangeira também é um sinal de que a China continua comprometida em abrir seus mercados, mesmo que o ambiente geopolítico global se torne mais complexo. Isso demonstra que a China reconhece o valor da expertise e do investimento estrangeiros, não apenas em manufatura ou tecnologia, mas em áreas que afetam diretamente a vida diária das pessoas.
Esta política, embora aparentemente focada em assistência médica, tem o potencial de desencadear mais reformas em outros setores, de produtos farmacêuticos a tecnologia médica. Também pode criar oportunidades de colaboração entre participantes nacionais e internacionais em outras áreas, incluindo pesquisa, educação médica e telemedicina.
Em última análise, a decisão da China de permitir hospitais estrangeiros de propriedade integral é um passo ousado e oportuno para abordar seus desafios de saúde. É um movimento que pode trazer benefícios imediatos em termos de qualidade e acesso, mas que deve ser administrado cuidadosamente para garantir que atenda não apenas aos ricos, mas a todas as seções da população. Se executado cuidadosamente, este pode ser um momento crucial na jornada da China em direção a um sistema de saúde mais aberto, moderno e equitativo, que pode, com o tempo, se tornar um modelo para outras nações em desenvolvimento que enfrentam desafios de saúde semelhantes.